Ransomware: Uma Epidemia Digital

Rondinelli Castilho aka (N0rd)
8 min readNov 1, 2023

O ransomware é uma das ameaças mais prementes e destrutivas do mundo cibernético contemporâneo. Este artigo abordará o ransomware em duas partes: uma introdução geral à ameaça e sua história, seguida de uma exploração mais aprofundada das táticas e técnicas empregadas.

O ransomware é uma categoria de malware que tem se destacado nas manchetes e nos pesadelos de empresas e indivíduos em todo o mundo. A ameaça é caracterizada por sua habilidade de bloquear o acesso a dados críticos, criptografando-os, e exigir o pagamento de um resgate em troca da chave de descriptografia. Essa prática se transformou em um negócio altamente lucrativo para cibercriminosos, com impactos financeiros e operacionais significativos.

Uma Breve Visão Geral da História do Ransomware

O ransomware tem raízes que remontam às décadas de 1980 e 1990, mas sua proliferação significativa ocorreu nas últimas duas décadas. Alguns marcos notáveis incluem:

  • 1989: O “AIDS Trojan” (ou “PC Cyborg”) foi o primeiro caso documentado de ransomware. Distribuído em disquetes, esse malware criptografava os arquivos do sistema e exigia um resgate.
  • 2013: O CryptoLocker, um dos primeiros ransomwares modernos, usou criptografia forte e pedidos de resgate em Bitcoin. Ele foi frequentemente disseminado por meio de anexos de e-mail maliciosos.
  • 2017: O WannaCry ganhou notoriedade global ao explorar a vulnerabilidade EternalBlue no Windows para se espalhar rapidamente. Isso destacou a importância de manter sistemas atualizados.
  • 2017: O NotPetya, inicialmente disfarçado como ransomware, foi mais tarde identificado como um ataque de destruição em massa. Ele causou danos significativos em empresas, principalmente na Ucrânia.
  • 2018-presente: O Ryuk é uma família de ransomware notória por alvejar organizações e exigir resgates substanciais. É frequentemente associado a grupos de hackers, como o Wizard Spider.
  • 2021: O DarkSide ganhou destaque após o ataque ao Colonial Pipeline nos EUA, demonstrando a ameaça potencial do ransomware a infraestruturas críticas.

De acordo com o relatório da Emsisoft Ransomware Threat Report de 2023, os principais ransomwares e a quantidade de ataques em 2023 foram:

  • LockBit: 24% dos ataques
  • Conti: 23% dos ataques
  • REvil: 19% dos ataques
  • BlackCat: 17% dos ataques
  • Pysa: 12% dos ataques

Principais países alvos e setores:

Países

  • Estados Unidos
  • Reino Unido
  • Canadá
  • Alemanha
  • França

Tipos de empresas

  • Setor público
  • Saúde
  • Educação
  • Serviços financeiros
  • Tecnologia

Os ataques de ransomware estão se tornando cada vez mais globalizados. Em 2023, os Estados Unidos, Reino Unido e Canadá foram os países mais afetados por ataques de ransomware. O setor público, saúde, educação, serviços financeiros e tecnologia foram os setores mais afetados.

Videos de ransomware em ação:

https://youtu.be/y6XJXVxYWMA

https://youtu.be/Zy4G30kSPnY

Parte Técnica do Ransomware: Táticas e Técnicas

Aqui, exploraremos as táticas e técnicas do ransomware que o tornam tão eficaz.

Técnicas de Propagação

Os ransomwares modernos usam diversas estratégias para infectar sistemas:

  1. Phishing e Engenharia Social: Muitos ataques de ransomware começam com e-mails de phishing que enganam as vítimas para abrir anexos maliciosos ou clicar em links. A engenharia social desempenha um papel fundamental na disseminação desses ataques.
  2. Exploit Kits: Os atacantes aproveitam vulnerabilidades em software ou sistemas operacionais para infiltrar malware nos sistemas das vítimas. Vulnerabilidades não corrigidas são um alvo principal.
  3. Ransomware-as-a-Service (RaaS): Modelos de negócios de RaaS permitem que indivíduos com pouco conhecimento técnico aluguem ransomware de desenvolvedores mais experientes. Isso torna o ransomware mais acessível e disseminado.
  4. Criptografia Avançada: Os ransomwares modernos usam criptografia forte e assimétrica para bloquear os arquivos das vítimas. Isso torna a recuperação sem a chave de descriptografia praticamente impossível.
  5. Rede e Espalhamento Lateral: Alguns ransomwares têm a capacidade de se mover lateralmente em redes, infectando outros dispositivos e sistemas. Isso pode tornar o processo de recuperação ainda mais desafiador.

Criptografia Avançada

A criptografia é uma característica central do ransomware:

  • Criptografia Forte: Os ransomwares modernos usam algoritmos de criptografia forte e assimétrica, tornando a recuperação sem a chave de descriptografia praticamente impossível.

O Processo de Extorsão

Quando o ransomware infecta um sistema, ele criptografa os arquivos da vítima usando uma das técnicas de criptografia mencionadas anteriormente. Após a criptografia, a vítima é notificada de que seus dados estão bloqueados e que um resgate (normalmente em criptomoeda) deve ser pago para obter a chave de descriptografia.

Essa extorsão cria um dilema para as vítimas, já que pagar o resgate não garante a recuperação dos dados e pode incentivar ainda mais os atacantes.

  • AES-256: Um algoritmo de criptografia de chave simétrica que usa uma chave de 256 bits para criptografar os dados.
  • RSA-2048: Um algoritmo de criptografia de chave assimétrica que usa uma chave pública e uma chave privada para criptografar e descriptografar os dados.
  • ChaCha20/Poly1305: Um algoritmo de criptografia de fluxo que é rápido e seguro.

Algoritmo de criptografia AES

O algoritmo de criptografia AES é um dos algoritmos de criptografia mais populares usados em ransomware. O AES usa uma chave de 128, 192 ou 256 bits para criptografar os dados.

Exemplo simples para mostrar como o AES funciona:

Dados originais = "Este é um exemplo de texto criptografado."
Chave AES = 1234567890
Dados criptografados = AES (Dados originais, Chave AES)Dados criptografados = "Qk0yMDEyMDk5MTIzNDU2Nzg5Mzo0Y2FkZGV2aWNl"

Neste exemplo, os dados originais são a string “Este é um exemplo de texto criptografado.” A chave AES é o número 1234567890.

O AES usa um processo chamado subconjunto de substituição para criptografar os dados. O subconjunto de substituição é um algoritmo que substitui cada byte dos dados originais por outro byte a partir de um conjunto de 256 bytes.

No exemplo acima, o AES substituiu cada byte dos dados originais por outro byte a partir do conjunto de 256 bytes especificado pela chave AES.

Resgate e Anonimato

A obtenção do resgate é um dos objetivos do ransomware:

  • Pagamento em Criptomoedas: O resgate é frequentemente exigido em criptomoedas, tornando as transações mais difíceis de rastrear.
  • Preservação do Anonimato: Os criminosos cibernéticos frequentemente buscam manter o anonimato usando serviços de rede privada virtual (VPN) e a rede Tor.

Prevenção e Mitigação

A prevenção é fundamental para proteger-se contra o ransomware e suas devastadoras consequências. Aqui estão algumas medidas eficazes:

  1. Atualizações Regulares: Manter sistemas operacionais, aplicativos e software de segurança atualizados é essencial para evitar vulnerabilidades exploradas pelos ransomwares.
  2. Conscientização do Usuário: A educação e o treinamento dos funcionários e indivíduos são essenciais para reconhecer e evitar e-mails de phishing, links suspeitos e comportamentos de risco.
  3. Soluções de Segurança Avançadas: A implementação de software de segurança robusto, como antivírus, firewalls e sistemas de detecção de intrusões, pode identificar e bloquear ransomwares.
  4. Backups Regulares: A realização de backups regulares dos dados é crucial. É importante armazenar os backups offline ou em locais seguros para evitar que sejam criptografados junto com os dados principais.
  5. Restrições de Acesso: Limitar o acesso dos usuários aos sistemas e dados apenas ao necessário pode reduzir o impacto do ransomware.
  6. Análise Comportamental: Ferramentas de análise comportamental podem identificar atividades suspeitas e interromper ransomwares antes que causem danos.

Recuperação e Resposta a Incidentes

Apesar de todas as precauções, pode ocorrer uma infecção por ransomware. Nesse caso, é essencial ter um plano de recuperação e resposta a incidentes estabelecido. Isso pode envolver:

  1. Isolamento Rápido: Isolar os sistemas infectados para impedir a propagação do ransomware na rede.
  2. Identificação do Ransomware: Determinar o tipo e a variante do ransomware é fundamental, pois diferentes variantes podem exigir diferentes abordagens de recuperação.
  3. Comunicação com Autoridades: Em muitos casos, é necessário relatar o ataque às autoridades locais e, em alguns casos, coordenar com agências de aplicação da lei.
  4. Recuperação a partir de Backups: Restaurar dados a partir de backups limpos e não afetados é muitas vezes a melhor maneira de se recuperar sem pagar o resgate.
  5. Avaliação de Danos e Lições Aprendidas: Após o incidente, é importante avaliar os danos, determinar as lições aprendidas e ajustar as políticas e práticas de segurança conforme necessário.

A Importância das Simulações de Ransomware em Empresas: Preparação para a Pior Situação

A ameaça do ransomware é uma preocupação crescente para empresas em todo o mundo. À medida que os ataques cibernéticos se tornam mais sofisticados, é fundamental que as organizações estejam preparadas para enfrentar essa ameaça. Uma das maneiras mais eficazes de se preparar é por meio de simulações de ransomware. Neste artigo, exploraremos a importância dessas simulações e como elas podem ajudar as empresas a fortalecer suas defesas cibernéticas.

O Crescimento das Ameaças de Ransomware

Nos últimos anos, o ransomware evoluiu de um incômodo cibernético para uma ameaça global. Empresas de todos os tamanhos e setores estão em risco de ataques de ransomware, que podem resultar em perda de dados, interrupção de operações e danos financeiros significativos. Além disso, a demanda por resgates em criptomoedas tornou a atividade dos criminosos cibernéticos mais difícil de rastrear.

O Que São Simulações de Ransomware?

As simulações de ransomware são exercícios controlados em que uma organização simula um ataque em seu ambiente de TI. Esses exercícios podem variar em complexidade, desde cenários simples até simulações mais elaboradas que envolvem a participação de toda a equipe de segurança cibernética e outros departamentos relevantes.

A Importância das Simulações de Ransomware

1. Identificação de Vulnerabilidades

As simulações de ransomware ajudam as empresas a identificar vulnerabilidades em suas defesas cibernéticas. Isso inclui identificar pontos fracos em sistemas, processos ou treinamento de funcionários. Uma vez identificadas, essas vulnerabilidades podem ser abordadas e corrigidas antes de um ataque real.

2. Treinamento de Equipe

O treinamento é essencial para garantir que a equipe saiba como responder a um ataque de ransomware. As simulações permitem que os membros da equipe pratiquem suas funções e testem suas habilidades em um ambiente seguro. Isso inclui ações como isolamento de sistemas infectados, restauração de backups e comunicação com partes interessadas.

3. Teste de Planos de Resposta a Incidentes

As empresas geralmente desenvolvem planos de resposta a incidentes para orientar suas ações em caso de um ataque cibernético. As simulações de ransomware fornecem uma oportunidade valiosa para testar esses planos na prática. Isso ajuda a garantir que a equipe esteja familiarizada com os procedimentos e possa executá-los de maneira eficaz durante um incidente real.

4. Melhoria da Conscientização

As simulações aumentam a conscientização da equipe sobre a ameaça do ransomware. Os funcionários que participam desses exercícios aprendem a reconhecer os sinais de um ataque e a importância de relatar atividades suspeitas. Isso contribui para a cultura de segurança cibernética da organização.

5. Avaliação de Recursos

As simulações também ajudam as empresas a avaliar seus recursos e capacidades para lidar com um ataque de ransomware. Isso pode incluir a avaliação da eficácia de soluções de segurança cibernética, a disponibilidade de backups confiáveis e a capacidade de resposta da equipe.

6. Preparação para o Desconhecido

Um dos desafios do ransomware é a sua imprevisibilidade. As simulações preparam as organizações para enfrentar o desconhecido, uma vez que os cenários de ataque podem variar amplamente. A prática ajuda as equipes a desenvolver a flexibilidade necessária para lidar com diferentes situações.

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Written by Rondinelli Castilho aka (N0rd)

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